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Um dia que vale à pena viver…

A morte é um tema que poucas pessoas se sentem confortáveis em conversar, porém é preciso conversar sobre, pois esse é, inevitavelmente, o nosso fim. Recebi uma indicação de leitura: “A morte é um dia que vale à pena viver: e um excelente motivo para se buscar um novo olhar para a vida” da escritora Ana Cláudia Quintana Arantes. Pelo título do livro muitas pessoas desistem da leitura por achar meio mórbido, mas decidi fazer esta apreciação por ter sido um dos livros mais reflexivos que eu li nos últimos tempos. Levei muitos “tapas na cara” me fazendo acordar para algumas situações que precisam e merecem cuidado agora, enquanto há vida!

A autora é médica especializada em cuidados paliativos, portanto em alguns pontos do livro ela apresenta dados interessantes e curiosos sobre o assunto. Junto dos dados ela apresenta algumas vivências pessoais que provocaram reflexões e mudanças na vida pessoal dela também. A fim de contextualizar o tema para quem não conhece o assunto, trago aqui à definição apresentada no livro: “Cuidados paliativos consistem na assistência, promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva à melhoria da qualidade de vida do paciente e de seus familiares diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e do alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais” (OMS, 2002).

Alguns pontos mais marcantes do livro, pelo meu ponto de vista, logo no início
ela destaca a importância de “cuidar de quem cuida”. Eu vejo constantemente em meus atendimentos pessoas que não estão necessariamente diante de um caso de doença grave, mas que são cuidadores e que se deixam de lado para somente cumprir com a missão de cuidar. Em determinado ponto o emocional e o físico do cuidador acaba ficando mais debilitado do que aquele que está sendo cuidado em si. Por isso que o ato de se cuidar para conseguir cuidar do outro é ponto primordial. Grifei de todas as cores possíveis o trecho a seguir em que ela faz um relato lindo do olhar dela sobre a medicina:

“Sempre digo que a medicina é fácil. Chega a ser até simples demais
perto da complexidade do mundo da psicologia. No exame físico,
consigo avaliar quase todos os órgãos internos de um paciente. Com
alguns exames laboratoriais e de imagem, posso deduzir com muita
precisão o funcionamento dos sistemas vitais. Mas, observando um ser
humano, seja ele quem for, não consigo saber onde fica sua paz. Ou
quanta culpa corre em suas veias junto com seu colesterol. Ou quanto
medo há em seus pensamentos, ou mesmo se estão intoxicados de
solidão e abandono”
.

Outro ponto que trago é a diferenciação que ela apresenta sobre empatia e compaixão, afirmando que quem está ao lado de alguém com a necessidade de cuidados não precisa viver o que o outro está vivendo – o que conhecemos como empatia: “se colocar no lugar do outro”. A habilidade que se precisa ter neste momento é compaixão, que é algo que vai além da empatia, pois permite compreender o sofrimento do outro “sem que sejamos contaminados” por este sofrimento. Precisamos também pensar sobre a habilidade de aproveitar o tempo que temos na vida, pois “o que separa o nascimento e a morte é o tempo. A vida é o que fazemos dentro deste tempo… quando passamos à vida esperando pelo fim do dia, pelo fim de semana, pelas férias, pelo fim do ano, pela aposentadoria, estamos torcendo para que o dia da nossa morte se aproxime mais rápido”.

Eu particularmente concordo com o ponto de vista dela sobre a espiritualidade. É importante ter um vínculo espiritual com qualquer seguimento religioso, desde que ele faça sentido para você e que sua relação com isso seja bem resolvida e tranquila, pois uma espiritualidade imatura, ou mal vivida, pode se tornar um peso a mais do que um alívio quando se está diante da finitude.

Ela conta que muitas pessoas que se deparam com o fim da vida começam com os pensamentos do “e se…”. Esses arrependimentos em sua maioria tratam de desejos de retomar algum tempo perdido, com isso reforça ainda mais o subtítulo do livro para buscar um novo olhar para a vida, aproveitando e vivendo bem o tempo que temos e cuidar das nossas relações antes que seja tarde.

E por fim, é claro que não podia faltar, um panorama sobre o luto: um processo individual e personalizado que cada pessoa vive logo após a perda de alguém significativo.

“A dor do luto é proporcional à intensidade do amor
vivido na relação que foi rompida pela morte, mas
também é por meio desse amor que
conseguiremos nos reconstruir… Tudo pode
morrer, exceto o amor. Só o amor merece a
imortalidade dentro de nós.”

Claro que ao longo do livro outros temas aparecem e que também merecem atenção, mas minha intenção aqui foi somente levantar aquilo que foi mais significativo na minha leitura. Te convido para fazer a sua leitura e depois me contar o que foi mais marcante para você!
Boa leitura!!!

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