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O voluntariado pela ótica do professor Cortella

O professor Mário Sérgio Cortella é uma dessas pessoas que fazem diferença no mundo ao conseguir transmitir com muita clareza mensagens que em princípio podem parecer muito duras. Em recente palestra proferida em Catanduva (29 de Agosto de 2022 -“Faça seu melhor! Voluntariado: Da indignação passiva à esperança ativa”), tratando do tema da solidariedade, ele conseguiu, de forma lúdica e poética, tocar nossos corações e mentes, despertando-nos para sairmos da nossa bolha egocêntrica, a partir de nós mesmos, e ajudar o próximo. Neste texto, com o apoio e parceria da minha querida irmã Patrícia, enunciaremos algumas ideias e reflexões apresentadas no evento. Em princípio, vale ressaltar o nobre gesto do professor Cortella auxiliando a Arcos (Associação e Rede de Cooperação Social) que destinará 100% do resultado do evento para entidades assistenciais de Catanduva e região.

Ele iniciou sua reflexão com uma frase do poeta Thiago de Mello: “faz escuro, mas eu canto” para que olhássemos para a realidade da vida que mesmo diante de dores e dificuldades há espaço e necessidade de cantar para seguir em frente. Não é possível ser feliz o tempo todo, ainda assim, cantamos.

Sabemos que existem muitas pessoas com necessidades extremas, mas no fundo o que pode mudar esse cenário são as ações que outras pessoas podem ter em relação a este que tanto necessita. Colaborar significa não abandonar aqueles que perecem.

Nós mesmas vivenciamos um pouco das dificuldades de tentar ajudar a quem precisa, somos voluntárias da Casa da Criança Sinharinha Netto que acolhe crianças de baixa renda de 4 meses à 5 anos, e encontramos todos os dias o desafio de onde recorrer para conseguir as verbas necessárias para manter a creche funcionando e mais do que isso, encontrar pessoas dispostas a dedicar seu tempo (algo tão valiosos e valoroso) para fazer com que esse trabalho consiga seguir seu princípio norteador de cuidar destas crianças oferecendo educação, alimento e afeto. Sabemos que sozinhas não conseguimos nada, precisamos mesmo da união de várias pessoas dispostas, afinal “somos mais quando nos agregamos” e sendo assim conseguiremos ir mais além.

Uma característica fundamental para ser um voluntário é conseguir perceber que ainda é possível, dizer “não” para aquilo que não tem alternativa, ser incapaz de acreditar que tal situação não tem saída. A frase apresentada por Cortella é contundente: “O impossível não é um fato, ele é apenas uma opinião”. Com isso ele nos traz como fio condutor de sua fala o filme “ET, o Extraterrestre” de Steven Spielberg e, sem assistir novamente o filme, apenas com a descrição das cenas pelo professor, nos emocionamos ao ponto de ir às lágrimas! Ele narra sua memória de ter assistido a estréia no cinema e presenciar toda a plateia vibrando e “acreditando” na cena em que Elliot e seus amigos resgatam o ET dos cientistas, escondendo-o numa bicicleta e estão a ponto de serem pegos pela polícia, as bicicletas voam. Ora, bicicletas não voam. Mas, quando estamos salvando alguém do abandono, é como fazer bicicletas voarem. A isso ele comparou o serviço voluntário. Essa foi uma das metáforas mais bonitas que já ouvimos sobre voluntariado. Ele apontou que pessoas não morrem de frio ou fome, morrem de abandono e, como no filme ET, muitas vezes enxergamos as pessoas em situação de rua ou vulnerabilidade como verdadeiros extraterrestres. No filme, o ET abandonado foi acolhido por uma criança, e, quando estava próximo de morrer, por ter sido separado de seu amigo, foi a amizade que o salvou. 

Outra característica fundamental que precisa estar presente naqueles que acreditam no voluntariado é buscar por uma vida que não seja banal, nem inútil, e que para isso é interessante fazer a experiência proposta por Cortella de nos tornarmos necessários a alguém. Quando conseguirmos entender o ponto relacional que temos uns com os outros conseguiremos sentir que todo esforço e dedicação valem a pena, afinal passamos a ser necessários para que a existência do outro possa prosseguir.

Precisamos entender que o termo “abundância” significa ter o suficiente para que haja partilha e não carência. Claro que nem sempre teremos as condições ideais para e realizar  essa partilha, mas o caminho que pode levar à alguma mudança não é o da resignação, muito menos do criticismo. O caminho necessário é do otimismo, sem que seja tolo imaginando que tudo é completamente possível, mas ainda sim acreditar que nem tudo é impossível. Aprender a fazer o melhor que se pode dentro das condições que se tem já é algo grandioso, pois se cada pessoa conseguir pensar e agir desta maneira, teremos a chance de muitas mudanças, cada um fazendo um pouquinho pode mover um montão!

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