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Quando olho no espelho (Reflexão sobre autoestima)

Indo para além da ideia de ter uma autoestima elevada, precisamos ampliar nossa capacidade de aceitação de si mesmo e da possibilidade de sermos compassivos com a gente mesmo.

Viemos de uma cultura em que a autoestima elevada é entendida como sinônimo de boa saúde mental. De fato, pessoas com a autoestima elevada tendem a ser mais alegres e ter mais motivação na vida e serem mais otimistas, mas nem por isso elas estão livres de se envolver em questões emocionalmente desafiadoras ou comportamentos nocivos para sua saúde mental. No fundo a auto estima elevada parece ser a consequência e não a causa de uma boa saúde mental.

À autoestima refere-se a uma avaliação de nossa dignidade, um julgamento que informa que somos pessoas boas e valiosas, ou seja, o pensamento de que somos bons em coisas que têm significado pessoal para nós. Por exemplo, posso ser uma tenista maravilhosa, mas isso só afetará minha autoestima se eu valorizar essa característica. Outro ponto da autoestima é sobre a forma como imaginamos que os outros nos percebem, ou seja, se acreditamos que os outros nos julgam positivamente, temos uma autoestima elevada, se acreditamos que os outros nos julgam negativamente, vamos nos sentir mal. O detalhe aqui é sobre o que “acreditamos” e isso pode não ser uma verdade, trata-se da nossa percepção e esta pode não estar correta.

Maneiras de aumentar nossa autoestima são valorizar aquilo que somos bons e desvalorizar nossos defeitos e melhorar nossa competência em áreas que não consideramos importantes.

A valorização da autoestima a qualquer custo pode levar a um problema significativo: o narcisismo. O narcisista tem a autoestima elevada o tempo todo, e estão felizes na maior parte do tempo, mas é completamente absorto em si mesmo e acabam afastando as relações com as pessoas, afinal é difícil conviver com alguém que é tão envolvido consigo mesmo que não cabe espaço para mais ninguém. E no fundo essa característica narcisista pode estar escondendo uma grande insegurança, mas isso fica de gancho para outro texto!

Outro cuidado a ser tomado em relação à autoestima é o que chamamos de autoestima contingente. Ela se refere à autoestima elevada mediante sucesso ou aprovação. Ou seja, a pessoa fica em busca de se sair bem ou ganhar competições o tempo todo para conseguir se sentir bem, a busca constante por prazer. Por exemplo, gostar de correr por se sentir bem consigo mesmo por ganhar, se parar de ganhar corridas, pode parar de sentir vontade de correr.

Mas e se ao invés de pensarmos em avaliações sobre ações ou julgamentos, passássemos a nos relacionar com nossas habilidade e fraquezas sem pensamentos de bom ou ruim, mas de experiências ocorridas no momento presente e percebendo nossa essência humana falha e inconstante e do quanto as coisas mudam ao nosso redor sempre? Os sentimentos de autocompaixão não nos obrigam a estar acima da média, ou de termos ido bem em uma prova, mas de entendermos nossa imperfeição e fragilidade apesar de nossas maravilhas. parando de nos colocar na balança de eterna comparação com os outros e conseguindo manter os sentimentos de autocompaixão mesmo quando tudo dá errado.

Por fim, precisamos entender que Autoestima precisa ser olhada com cuidado, ao invés de querer usá-la para nos destacarmos e nos sentirmos superiores, devemos estimular os sentimentos de autocompaixão, para não ficarmos presos à necessidade de comparação social. “quando nossa autoestima resulta de sermos um ser humano intrinsecamente dignos de respeito em vez de ser contingente na obtenção de certos ideais nossa autoestima é mais resiliente”.

Retirado do livro “Autocompaixão” da Kristin Neff

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