É muito comum vermos, ouvirmos e falarmos por aí que sentimos tal coisa, mas se parar para analisar não estamos falando de sentimentos de verdade. Usar o verbo “sentir” nem sempre significa que aquilo que se segue é um sentimento. Temos a tendência incrível de tentar acessar nossos sentimentos somente através da nossa razão e esquecemos que somos formados pelos dois pólos: razão e emoção. E pior, sempre entendemos que eles são opostos! Precisamos aprender que para conviver bem com nossas emoções e sentimentos, precisamos unir razão e emoção. Afinal, a emoção é aquilo que se manifesta em nosso corpo diante de algumas situações (por exemplo mãos transpirando, taquicardia, respiração alterada, etc.) e o sentimento é a interpretação daquela emoção que está manifesta em nosso corpo, como o medo, por exemplo. Para conseguir fazer esta interpretação precisamos necessariamente da razão.
Temos sentimentos a todos os momentos, mas não fomos ensinados a tomar consciência deles. Fomos duramente ensinados a olhar para fora de nós e notar o que a outra pessoa está pensando sobre nós ou nosso comportamento, sendo assim, olhar para dentro e saber dar nome para o que está sentindo ficou bem longe da nossa história!
Para conseguir identificar e nomear precisamos de um vocabulário que descreva corretamente o que estamos sentindo. Sendo assim, quando usamos expressões do tipo: “me sinto incompreendido”. Na verdade, isso não é um sentimento, é muito mais uma análise sobre se a outra pessoa te compreendeu ou não!
“A causa dos nossos sentimentos são as nossas necessidades e não o comportamento dos outros” (Marshall Rosenberg).
Essa afirmação nos diz que ligados aos nossos sentimentos temos algo extremamente importante para nós que está sendo ou não atendido, essas necessidades estão diretamente ligadas aos nossos valores de vida. Claro que como nossos valores, elas também são mutáveis ao longo da nossa jornada nesta terra! Alguns exemplos de necessidades podem ser conforto, aceitação, integridade, coerência, privacidade e tantas outras!
E se estou dizendo que nunca fomos ensinados a dar nome aos nossos sentimentos, quem dirá aprender a identificar nossas necessidades que estão sendo ou não atendidas em uma relação! Por isso, os conceitos da Comunicação Não Violenta têm ganhado tanta visibilidade no mundo atual, pois nos ensina maneiras novas de lidar com nossos sentimentos que nos ajudam a caminhar em direção a uma vida mais conectada com nossos valores e com mais significado.
Não podemos esquecer que temos diversos comportamentos para responder ou reagir aos nossos sentimentos, e às tais necessidades não atendidas, neste momento também precisamos unir razão e emoção para a escolha de qual comportamento desejamos seguir, e quando eles não estão de acordo com nossos valores, precisamos de uma ajuda para rever os caminhos a percorrer.
Quando fazemos terapia treinamos através de diversas técnicas, e até mesmo de repetição, das novas escolhas que queremos ter diante das diversas situações da vida. Um grande exercício a ser feito sempre é poder entrar em contato com a ideia de que os sentimentos, tanto bons quanto ruins, são passageiros, por mais deliciosos que sejam não estarão contigo para sempre (podem ser revisitados através da memória), e nem os mais doloridos não ficarão eternamente presentes!
Enfim, tudo passa!
Nota final:
Fique sabendo que para escrever este texto usei conteúdos do livro: “A linguagem de paz em um mundo de conflitos” de Marshall Rosenberg (Palas Athena, 2019) e do conteúdo do podcast “Prazer, Renata” no episódio que fala sobre “A importância de aprender a controlar o que sentimos” – Com a neurocientista Cláudia Santana. (30 de Maio de 2022.)